Então ...Aí chega novembro... E já começa a se ouvir das comemorações da Semana da Consciência Negra, que agora é lei, aqui em JF. Ainda é pouco diante do longo esquecimento e da exclusão por mais de um século... Quando eu era criança, os familiares adultos usavam a figura de uma parenta para assombrar as crianças: ─ Olha que a Nêga Véia te pega! Minha mãe tinha mágoa dela e a chamava de nêga preta . Na busca da minha consciência étnica, fui aos poucos descobrindo quem ela era de fato e o que eu herdara dela... Então escrevi e reescrevo agora. Ela?
A minha bisavó materna
Aquela negra era preta! Pretinha mermo! Nêga preta bonita e magricela!
Mas não dera pra mucama,posto que rasgara o vestido de saco,
com peito de renda, que a dona da fazenda lhe fizera.
Aquela negra era preta e abusada!
A nêga preta fazia o que negra não podia,dizia o que escrava não dizia
e a sinhá não queria e sabia o que mulher não sabia...
E se arguém ralhava, ela ria um riso tonto,doído:
A nêga preta ria um riso doido, um riso rido mermo!
Aquela negra preta era fujona!
A nêga preta fugia pelas pinguelas,saias amarradas na cintura,
coxas pretas mermo à mostra ...livres!
Não havia quem lhe apanhasse... e se argum se assanhasse:
Tira os óios, branco safado... que não lhe dei confiança!
Nas ancas, leva a criança e no coração, a esperança!
E a nêga preta mermo,abusada mermo...
A nêga preta fujona mermo... vadeava o rio... vadeava a vida...
vadeava a vida... vadeava o rio!...
E vadeando... vadeando... lá ia aquela negra velha preta,
abusada e fujona mermo, escapando das sombras escravas da morte,
entre as sombras escravas da estrada... a caminho do sol, para mudar a sua sorte,
querendo ser um raio de muita luz!... querendo ser o que era mermo:
a nêga preta véia livre Maria da Cruz!!!
Izabel Cristina Dutra, reescrito em JF, 10/11/2011.
Então ...Aí chega novembro... E já começa a se ouvir das comemorações da Semana da Consciência Negra, que agora é lei, aqui em JF. Ainda é pouco diante do longo esquecimento e da exclusão por mais de um século... Quando eu era criança, os familiares adultos usavam a figura de uma parenta para assombrar as crianças: ─ Olha que a Nêga Véia te pega! Minha mãe tinha mágoa dela e a chamava de nêga preta . Na busca da minha consciência étnica, fui aos poucos descobrindo quem ela era de fato e o que eu herdara dela... Então escrevi e reescrevo agora. Ela?
A minha bisavó materna
Aquela negra era preta! Pretinha mermo! Nêga preta bonita e magricela!
Mas não dera pra mucama,posto que rasgara o vestido de saco,