quinta-feira, 7 de julho de 2011

Homenagens 13 (ICD)

Aí eu estava esperando para assistir ao jornal, aí a Fátima fez a chamada; “Aconteceu outra vez...”   Aí eu reescrevi aquele poema que fiz, num dia, em que meu olhar se cruzou com uma senhora pela janela do ônibus:
Uma  outra prenda de maio
Nossos olhos de mãe largados 
assim se encontram 
pela janela do coletivo,
nossas almas de mãe cansadas 
se encontram pela tela da tevê...
Colhes meu olhar abandonado,
colho teu olhar abandonado,
colhemos o olhar dela abandonado...
mas ninguém vê...
Nosso pranto rola silencioso 
e cansado de tanto recolher
 nossos bebês abandonados...
lançados  pelas janelas luxuosas,
infectados pelo mosquito danado,
atingidos pelas balas achadas e perdidas,
estilhaçados pela bomba do ódio,
marcados pelas mãos do vício e do  ócio,
esmagados pela lixeira ao lado,
congelados nos córregos de outro bairro...
Hei!  “Acorda,menina”!“Desperta coração”! *¹
que ainda é tempode subir 
a escadaria ou o escadão,
e antes de limpar o fogão,
 enquanto liga a tevê
e assiste ao jornal,
 pra espantar este mal,
você vai tricotar  aquele casaquinho
pra  neste inverno que chega
oferecer para aquele bebê 
daquela mãe
– aquele que se salvou – 
porque ela, igual a você
 nunca largou, nunca abandonou
 nesse ou em outro maio... sempre cuidou!

Izabel Cristina Dutra, produção original: JF/2008.
*¹ Estas frases são respectivamente da apresentadora Ana Maria Braga e de um D.J. de rádio comunitária.

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