quinta-feira, 19 de abril de 2012

Homenagens 25


Conto do último curumim

 Ao longo da história,ao longo da estrada,
numa taba  já  vazia e já senil,
são séculos, são sonhos depois...
Que descobriram essa terra tão gentil...
 que nos impediram de dizer não,
 e no meio da selva seca, 
vive uns restos de nação!
Sob um céu de grafite, que antes era cor de anil,
 pula o tecnofunk, dança o eletroforró
inda que seja só,
 toma coca-cola, diz:  ies ai du!... e joga até o beisebol,
 e também os malabares, para ganhar uns dólares,
 janta o cheeseburguer,na carrocinha da aldeia,
  se embriaga,com a turma do barril, 
e injeta alegria na veia...
Mas morre de fome, de tifo e de dengue,
 e com a barriga cheia do que não viu,
  um  menino índio de um certo brasil.

Izabel Cristina Dutra - reescrito em JF, 19 de abril de 2012

                   

terça-feira, 27 de março de 2012

Homenagens 24


O CIRCO CHEGOU!!!
E já se mandou... E já partiu!...
E ninguém ouviu o alegre alto-falante,                              
ninguém viu a  picape colorida,
a lona nova em folha e o coitado do elefante,
com as patas cheias de bolhas,
de tanto andar pela cidade,
dando conta da novidade !!                             
Mas também tanto faz...Pais ocupados demais,
meninos presos em palácios de videogame,
não tinham tempo pra rir
    do palhaço Treme-treme...
Menina brincando de ser topmodel,
sem tempo de ver bailar
a delicada Mabel.
O circo chegoooou!!!... E aqui ele ficou!!!
Mães cantando de improviso,
pais jogando malabares,
avós trapezistas, nos ares,
Tios mágicos e sem juízo,
crianças com sede de riso... 
equilibrista engraçado,
apresentador engomado,
pipoqueiro encantado...
E  até... lua-de-mel de Treme-treme e Mabel!...

quarta-feira, 21 de março de 2012

Homenagens 23


Ao Rio Paraibuna(e a todos os Rios)
Eu nunca vi o Reno nem o Solimões: Vi o Paraibuna. Sinto... É rio! So(r)rio: Tem barca, barquinho, barcão... Criança, pescador, canção... /Eu nunca vi o Ganges nem o Yang-tseu-kian: Vi o Paraibuna! Sinto... É rio! Não rio... Na TV, quem vê – ouviu: Tem notícias e espumas letais corpos esgotados, lixos mortais... Sem peixes nem verdes, nada mais!/ Eu nunca vi o Oredezh nem o Mississipi: Vi o Paraibuna! E em cada vazante, em cada enchente... A água e o planeta pedem ajuda e respeito a toda gente! Talvez... /Só uma vez, eu vi... O Ganges e o Yang-tseu-kian... O Reno e o Solimões... O Oredezh e o Mississipi... Foi no Paraibuna! ...E sinto... Ainda é rio! E só... Na correnteza, tão forte como a morte, tem flor tão frágil como a vida. Olhos são meninas correndo,  colhendo, oferecendo... Penhor eterno, divino! Tanto quanto o Yang-tseu-kian e o Ganges... E o Reno e o Solimões... E o Oredezh e o Mississipi... Muito mais o Paraibuna!...







quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

Homenagens 22 (ICD)

Então... É Natal!... Não é, John? Não é, Yoko?*...Éééé!... Outra vez?... Ééé!...Tantos dezembros!... Tantas campanhas!... Não é, Betinho?**.. Ééé! O mundo mudou, rodou e se virtualizou... Mas não quem possa negar... Mesmo não sabendo a data certa do nascimento Dele, a gente comemora e entra ano e sai ano, éééé....

...É Natal, outra vez!...

Então é Natal *...outra vez!/Pra mim, pra eles, pra vc.s!/Então é Natal, não é John?/Então é Natal, não é Yoko?/Mesmo pra quem quer muito.../E até pra quem quer pouco!Não interessa pra quem.../Até pra vc. que não crê em Cristo!/Até pra vc. que nem pensa nisto.../Então é Natal,outra vez...Não começa de uma só vez.../Começa no começo de dezembro:Primeiro, vem as chuvas de final de primavera...Depois aqueles dias esquisitos  com cara de acabar.../Acabar a estação, acabar o ano...E se a gente ficar assim a  teimar, /Acabar com o nosso planeta Terra.../Aí vem aquele mês quente mas às vezes friorento.../Ou aquele mês quente ora brisa, ora vento, /ora temporal ora chuva fina.../Depois vem a promoção/ Vem o décimo-segundo e o décimo-terceiro.../Gente madrugando em porta de loja,/Querendo ser o primeiro.../Aí  enfeitamos árvores e acendemos as luzes.../ Das ruas, das casas e do coração.../Aí vem as cantatas.../Meninos de voz inocente cantando aquela canção...Aí vem arrependimento: De ter brigado com a mãe e até  com o vizinho.../De ter estocado comida e presente.../E esquecido daquele pobre menininho.../Então é Natal outra vez, não é gente?/E vamos combinar.../É um tempo diferente!/Então é Natal outra vez...Pra mim, pra eles, pra vc.s!Então, olha pra aquele presépio!Vc.s estão vendo o quê?/Um magnata cheio do ouro e da prata?/Um deputado cheio de propina e poder?/Uma gata blond cheia de charme e de ser?Uma dona cheia de dólar, vaidade e querer?/Não! Maria e José cheios de esperanças.../No menino que vai nascer/Entre bebês ricos e pobres, entre todas as crianças,/É o único que vai vencer o Mundo e a Morte***../Pra mudar dos vivos e  mortos, a sorte..Por Mim, por Eles, Por V.C.!...

*- Referência à Canção de Natal de John Lennon e Yoko Ono (1971) e à versão interpretada por Simone.   
** - Referência ao sociólogo Herbert José de Souza, criador da campanha Natal sem Fome.
***-Referência a João 15:10 a 12,18; 16:33 e 17:20.
Izabel Cristina Dutra- escrito em 07/12/2o11.

quarta-feira, 9 de novembro de 2011

Homenagens 21(ICD)

Então ...Aí  chega  novembro... E já começa a se ouvir das comemorações da Semana da Consciência Negra, que agora é lei, aqui em JF. Ainda é pouco diante do longo esquecimento e da exclusão por mais de um século... Quando eu era criança, os familiares adultos usavam a figura de uma parenta para assombrar as crianças: ─ Olha que a  Nêga Véia te pega! Minha mãe tinha mágoa dela e a chamava de nêga preta . Na busca da minha consciência étnica, fui aos poucos descobrindo quem ela era de fato e o que eu herdara dela... Então escrevi e reescrevo agora. Ela?


A minha bisavó materna
 Aquela  negra  era preta! Pretinha mermo! Nêga preta bonita e magricela! 
Mas não dera pra mucama,posto que rasgara o vestido de saco, 
com peito de renda, que a dona da fazenda lhe fizera.
Aquela negra era preta e abusada!
A nêga preta fazia o que negra não podia,dizia o que escrava não dizia 
e a sinhá não queria e sabia o que mulher não sabia... 
E se arguém ralhava, ela ria um riso tonto,doído: 
A nêga preta ria um riso doido, um riso rido mermo
Aquela negra preta  era fujona! 
A nêga preta fugia pelas pinguelas,saias amarradas na cintura, 
coxas pretas mermo à mostra ...livres! 
Não havia quem lhe apanhasse... e se argum se assanhasse: 
Tira os óios, branco safado... que não lhe dei confiança! 
Nas ancas, leva a criança e no coração, a esperança!
 E a nêga preta mermo,abusada mermo...
A nêga preta fujona mermo... vadeava o rio... vadeava a vida... 
vadeava a vida... vadeava o rio!... 
E vadeando... vadeando... lá ia aquela  negra  velha preta, 
abusada e fujona mermo, escapando das sombras escravas da morte,
 entre as sombras escravas da estrada... a caminho do sol, para mudar a sua sorte,
querendo ser um raio de muita  luz!... querendo ser o que era mermo: 
a nêga preta véia livre Maria da Cruz!!!

 Izabel Cristina Dutra, reescrito em JF, 10/11/2011.

quinta-feira, 27 de outubro de 2011

Homenagens 2O(ICD)


Pois é... Outubro vai passando... ... A chuva vem e passa ...  Mas ainda não passaram todas as coisas... Isto me traz à lembrança aquele distante outubro chuvoso. Eu não tava aqui... Eu  tava lá naquela cidade ...À beira-mar... E eu trabalhava no  Centrão do Rio, naquela área chamada de Castelo, e na hora do almoço, eu ia fazer a sesta na Cinelândia... Mesmo chovendo, eu ficava lá sentada nos bancos daquela praça e eles passavam... Eles? Os alunos... E ele também passava .. .Ele? Os alunos sempre o cumprimentavam assim:
E aê... Velho Mestre?!*... 
E o velho mestre passava... 
Tateando seus caminhos, 
com um velho chapéu de chuva... 
Sempre sorrindo... E sempre olhando o céu!... 
E o ceuhuh?! Sempre o ceuhuh!... 
O céu  estava sempre engraçadamente azul!... 
E o velho mestre passava, tateando seus direitos, 
com um velho jeito de chuva... 
Sempre sorrindo... E sempre olhando o céu... 
E o ceuhuh?!  Sempre o ceuhuh!...
O céu estava sempre engraçadamente azul!... 
E o velho mestre  passava... 
Tateando sua solidão, 
com uma velha alma de chuva...
Mas sempre sorrindo... Mas sempre olhando o céu...  
 Mas e o ceuhuh?! Sempre o ceuhuh!... 
O céu estava sempre engraçadamente azul!... 
E, os seus  ex-alunos passavam de camiseta azul de verão 
e discutiam o poder e a educação... 
É... Tem chovido bastante por esses anos!... 
E o velho mestre tem passado... 
E tem tateado a sua velha vida de chuva... 
Tem sorrido e olhado muito o céu! 
E o ceuhuh?!... Sempre o  ceuhuh!...
O céu está estranhamente azul!!...
*-Referência a professor aposentado da rede estadual de ensino do estado do RJ, antigo morador da Cinelândia, nos anos 1980.
 Izabel Cristina Dutra – produção original em RJ, 1988 – Reescrito em JF, outubro 2011.

sexta-feira, 14 de outubro de 2011

Memórias dos sonhos, das lutas e do pó de giz!

Juiz de Fora,14 de outubro de 2011.
Queridos Amigos(as) e Colegas do Magistério
     Aí setembro acabou... Outubro já chegou. A primavera prossegue com suas florações exuberantes, com suas sinfonias do passaredo local, em virtuose! Chuva boa veio e lavou o que e quem quis ser lavado! Aqui no Vale do Paraibuna, pinga, respinga e aí choveu bem!...  E a TV  tinha gritado rapidinrapidin as promoções pro dia das crianças e só uma chamada mencionou o dia do professor. Aí que choveu mesmo!... 
     Quer dizer, choveu água e choveu lembranças...  Aí então eu escrevi... Nem poemas nem crônicas... Eu iniciei o registro de nossas memórias em forma de cartas: como estou com dificuldades de criar outro blog, eu vou postá-las em cronicasdeumacidadevale.blogspot.com.... Vai lá e se quiser participar, escreve pro meu email e eu te digo como!
Um abraço.
Izabel Cristina Dutra