sábado, 18 de junho de 2011

Homenagens 8 (ICD)

As tragédias vão se repetindo e muitos vão se acostumando mas mais que nunca preciso registrar nossa indignação:  


Aos teus, aos meus, aos nossos...
Ai de ti, Mãe do Haiti …

do teu amor já  trincado, pelo próximo tremor,
só recolho uns restos de  coração palpitando,
lá na minha janela…
Ai de ti, Noiva de Sampa …
dos teus  sonhos brancos soterrados, pelo morro,
só desfio  uns farrapos de véu agarrados,
lá na minha cortina  ...
Ai de ti, Gato da China  ...
dos teus pelos escondidos, pelos escombros,
só vejo a ponta de um rabo cheirando a mofo,
lá no meu tapete ...
Ai de ti, Moço do Sul ...
dos teus lucros verdes arrancados, pelas águas,
só sorvo o vinho amargo misturado ao lodo,
lá na minha panela …
Ai de ti, pedreiro de Barreiro ...
do teu piso liso misturado ao lixo, pela enxurrada
só me espeto  em cacos misturados  ao pranto,
lá na minha sala …
Ai de ti, Cão de Machu Pitchu ...
dos teus uivos ecoando, pelas cordilheiras,
só ouço os ganidos de um cachorrinho,
lá no meu vizinho ...
Ai de ti,Vovó de Friburgo...
dos teus cabelos ensopados ao vento serrano,
só  afago  um fio de prata encaracolado,
lá na minha toalha...
Ai de ti, Mestre do Japão...
de  tuas cerejeiras carregadas  e encantadas,
só arranjo  flores murchas e radioativadas,
lá na minha jarra...
Ai de nós, Mães do Realengo...
de nossas menininhas de cachos definidos,
só desfaço  um laço de cetim e sangue,
aqui no meu penteado...
Ai de mim... 
mesmo que eu tenha doado toda a minha alma,
que vai entulhada nestes caminhões de coisas doadas,
mesmo que eu chore todo o choro que se tem chorado,
não chego a tempo te livrar...
Então tento em meio a toda essa lama,
em meio a todo este sangue,
resgatar um pouco de Fé e Poesia,
e clamar a Deus, para nos guardar
e que possamos eu, tu , eles, nós
– que aqui ficamos – 
devagarzinho nos consolar
e nos fortificar,

para que possamos recomeçar 
e nunca parar de lutar!


Izabel Cristina Dutra -reescrita  em JF/MG,2011. 

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